Falar de religião e cultura é falar do ser humano na sua totalidade, pois, ele é, essencialmente, religioso e, ao mesmo tempo, "produto" e "produtor" de um mundo que o rodeia, que o caracteriza e no qual deixa suas marcas.
"Religião" expressa a natureza humana no seu impulso para "além" de si, na busca de sentido para a sua existência. Como escreveu o teólogo Paul Tillich: "a religião é o âmbito em que se formula a pergunta pelo Novo Ser diante da ruptura entre o ser essencial e o ser existencial" (TILLICH, 2005, p.372). É a procura de si mesmo ao ser preenchido pelo "Outro" da resposta à questão que se levanta na vida.
Mas essa busca, própria de cada indivíduo, se materializa, coletivamente, na construção de mundo realizada ao longo de processos espaço-temporais que têm moldado tantas explicações e tantas formas de autocompreensão... E acredito que isso valha tanto para as culturas impregnadas de religião quanto para as "secularizadas", pois a autotranscendência caracteriza a ambas, embora através de crenças, símbolos e procedimentos diversos.
Podemos mencionar, como exemplo, a história da religião de Israel. Seu estudo demanda a compreensão do contexto cultural do Antigo Oriente Médio. Percebemos, então, como tais civilizações moldaram a maneira como o antigo israelita se entendia no mundo e como produziu cultura ao mesmo tempo em que foi por "ela" produzido. De fato, não podemos falar de religião de Israel sem mencionar as formas de crença e culto da Síria-Palestina, do Antigo Egito, da Mesopotâmia, da Anatólia etc., já que houve (a pesquisa nos mostra) a contribuição de todas essas civilizações na formação da religião bíblica (ver, por exemplo, SMITH, 2003).
E não tem sido diferente com o cristianismo ou com qualquer outra religião. Todas têm recebedido e dado sua contribuição umas às outras.
Eis o escopo deste espaço virtual: falar do fenômeno religioso e seu entrelaçamento com as Ciências Humanas e Sociais, na busca de compreensão daquilo que faz o ser humano ser o que é: um ente na eterna busca de si mesmo.
Bibliografia
TILLICH, Paul. Teologia sistemática. 5ª ed. revista. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
SMITH, Mark S. The origins of biblical monotheism: Israel's polytheistic background and the Ugaritic texts. Oxford; Nova Iorque: Oxford University Press, 2003.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
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